segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Kidoairaku


Comida sem frescura
Panela velha é que faz comida boa
Parece esquisito comer hambúrguer em restaurante japonês, mas o do  é muito bom

Todo mundo gosta de descobrir novos lugares para comer. Mas, não raro, detetives culinários também têm seus dias de azar. Quantas vezes não achamos "aquele" lugar inédito, às vezes até recomendado por amigos, e nos decepcionamos?

Há alguns dias, tive uma maré de azar. Fui a três lugares que não conhecia e saí frustrado dos três.

Nessas horas, o negócio é assumir os erros e apelar aos velhos favoritos de sempre. Foi assim que retornamos ao Kidoairaku.

O Kidoairaku não tem uma fachada das mais vistosas. De fora, nada indica ser um dos melhores restaurantes japoneses da Liberdade.

Fica na esquina da São Joaquim com Galvão Bueno, esquina perigosa, devido à velocidade de motoboys alucinados que sobem zunindo a São Joaquim. Cuidado, portanto.

Quem vai pela primeira vez certamente se surpreenderá com a "recepção": ao entrar, você verá uma tiazinha japonesa sentada numa cama, assistindo TV. Se ela não estiver lá, você está no lugar errado.

A especialidade da casa são os teishokus. No Japão, o teishoku é o equivalente ao nosso "PF": uma refeição que traz várias porções de pratos tradicionais. Nenhum teishoku está completo sem o missoshiru (sopa), gohan (arroz) e o tsukemono (conservas).

O garçom sugere o teishoku de peixe prego no molho missô. Pedimos também o katsudon (porco empanado sobre arroz adocicado), muito bom. De entradas, berinjela grelhada no missô, uma das coisas mais deliciosas que já experimentei, e buta no kakuni (barriga de porco cozida).

Um dos teishokus mais pedidos do Kidoairaku é o de hambúrguer. Pode parecer esquisito comer hambúrguer em restaurante japonês, mas o de lá é muito bom.

Os especiais do dia ficam anunciados em papéis colados na parede. Não se acanhe em pedir ajuda ao garçom. Lá, diferentemente de alguns lugares esnobes por aí, os atendentes, de fato, atendem.

KIDOAIRAKU - R. São Joaquim, 394, Liberdade, SP, tel. 0/xx/11/3207-8569

Baixo Cuzco


ANDRÉ BARCINSKI - Comida sem frescura – FSP

Uma região do centro de São Paulo, próxima à Santa Ifigênia, está virando o "baixo Cuzco", de tantos restaurantes peruanos que estão abrindo no pedaço.

Já existem ali o ótimo Rinconcito Peruano (rua Aurora, 451, tel. 0/xx/11/8974-2965) e outro com o sugestivo nome de El Carajo! (rua Guaianases, 167), "donde usted es el rey".

Há poucos meses, abriu na avenida Rio Branco, 439, o Tradiciones Peruanas. Trata-se de uma portinha, pouco maior que uma garagem, que fica colada ao excelente restaurante árabe Habib Ali. Tem três mesas, e cabem, com muito esforço, umas 12 pessoas.

Quando fui, com um amigo, o atendente disse que havia um salão maior no andar de cima, mas que ele mesmo não recomendava: "Está muito quente lá".

Aceitei a sugestão e esperei por uma mesa na calçada, de frente para o movimento da Rio Branco. Matei o tempo ouvindo o pavoroso sertanejo universitário que vinha de uma loja de som automotivo, ao lado.

O almoço foi ótimo: de entrada, o garçom trouxe um pratinho de "cancha", um milho peruano frito, aperitivo perfeito para acompanhar uma cerveja gelada ou a "chicha morada", um refresco feito de milho-roxo, doce e delicioso.

Depois, pedimos um ceviche de pescado (R$ 25), prato excelente e que custaria o triplo em qualquer lugar da cidade, seguido de "chaufa" de mariscos -arroz feito na panela wok, com camarões, peixe, lula e mexilhões. Não sobrou nada.

Gostei tanto que voltei ao Tradiciones Peruanas alguns dias depois. Pedi um "la viagra marina", pratão que traz ceviche, lulas fritas e arroz com mariscos. Custou R$ 60 e dava tranquilamente para duas pessoas.

Na mesa ao lado, um casal traçava um apetitoso "pollo broaster" (R$ 15), frango empanado com batatas fritas, que parecia dos céus.

Aprovadíssimo o Tradiciones Peruanas. E que a invasão inca ao centro de São Paulo continue firme e forte.

Pedi o arroz com mariscos, muito bom, com fartura de camarões e mexilhões. Dava para duas pessoas, talvez três. Ao meu lado, um casal pediu dois cebiches. Não precisava. Uma porção daria tranquilamente para ambos.
Fiquei babando pelos chicharrones de calamares (lulas dorê), servidos com batata frita e salada, e curioso para provar o "leche de tigre", que a garçonete definiu como "o suco do cebiche".
As garçonetes são simpáticas, mas não falam português e não parecem fazer muito esforço para aprender. Ir ao local é uma boa oportunidade de exercitar seu portunhol.
Um dos donos me disse que, no fim de semana, o lugar fica cheio de famílias, se deliciando com o "caldo de pollo" e a "jalea de pescado".

Como as porções são grandes, o ideal é ir com amigos e pedir pratos variados.

Mas só volto lá no fim de semana. Porque retornar ao trabalho depois de comer um "lomo saltado" não é para qualquer um (rua Aurora, 451, tel. 0/xx/11/3361-2400).

Rua Tomaz Gonzaga, Liberdade


ANDRÉ BARCINSKI - Comida sem frescura - FSP, 28.03.2012

Na rua Tomás Gonzaga, no bairro da Liberdade, ficam, lado a lado, três dos meus endereços preferidos

SE HOUVESSE uma eleição da "calçada mais apetitosa" de São Paulo, eu votaria na da rua Tomás Gonzaga, no bairro da Liberdade.

Num espaço de um quarteirão, há pelo menos seis bons restaurantes orientais, servindo de sushi a "lamen", de "teishokus" a yakisobas.

Gosto especialmente do trecho entre os números 57 e 75, onde ficam, lado a lado, três restaurantes e bares muito bons, baratos e diferentes: o Kintarô, o Jardim Meio Hectare e o Porque Sim.

O Jardim Meio Hectare é um dos meus restaurantes chineses prediletos no bairro, com pratos que fogem do tradicional frango xadrez. Bem simples, tem sacos de alimentos empilhados no caminho do banheiro, mas a comida é fantástica.

O siri com alho é sensacional, assim como a rã frita e o macarrão branco. Aos mais ousados recomendo o intestino de porco frito.

Ao lado fica o Porque Sim, misto de karaokê com restaurante de "lamen", onde você pode soltar a voz em baladas sertanejas ou rocks enquanto saboreia "teishokus". O restaurante fica no térreo; os boxes, no karaokê, no andar de cima. Prove o "karê" (curry japonês).

Mas o melhor motivo para visitar a Tomás Gonzaga é mesmo o Kintarô, um boteco japonês que é sucesso entre os esfomeados da região.

De manhã, o Kintarô serve coxinhas e bolovos (ovo com carne moída) para os trabalhadores famintos da região central.

À noite, seu balcão pequeno fica lotado de estudantes tomando cerveja gelada e provando os petiscos japoneses expostos no balcão, como a moelinha de frango, o "nirá" com ovo, a manjuba frita, os "oniguiris" e a dobradinha. Os "chankos" (caldeiradas, pratos típicos dos lutadores de sumô) são ótimos.

Há algumas semanas, voltei ao Kintarô, que havia fechado por 30 dias para reforma. Um dos donos, Taka, distribuía doses de saquê para celebrar a reabertura.

A tal reforma, aparentemente, foi só no banheiro, porque a frente do lugar continua igualzinha. Ainda bem. Em time que está ganhando...